Free na Deezer e Spotify mira nos NFTs
As enormes oscilações nos preços das ações das principais plataformas de streaming de áudio, nos últimos meses, deixam claro que o mercado vê com desconfianças a sustentabilidade do negócio. E os balanços recém-divulgados de empresas como Spotify ou Deezer, por exemplo, corroboram a corda bamba sobre a qual se move esse segmento: se, por um lado, os números de assinantes e o próprio faturamento crescem, por outro as plataformas operam sistematicamente no vermelho, ante uma receita ainda insuficiente para pagar suas despesas e remunerar seus acionistas.
Esta semana, três notícias divulgadas nos meios especializados mostram que diferentes plataformas têm investido em fórmulas próprias para tentar reverter esse quadro e aumentar seu caixa. A efetividade dos caminhos escolhidos por cada uma ainda está por ver.
DEEZER: fim progressivo dos planos free
O mesmo não se pode dizer de Spotify e Deezer, duas empresas ocidentais cujos balanços mostram prejuízos operacionais consecutivos. Enquanto a gigante e maior do mercado, de origem sueca, revelou em seu último balanço trimestral (Q4 de 2022) receitas totais de € 3,2 bilhões e crescimentos substantivos nos ouvintes mensais (para 489 milhões) e nos assinantes premium (para 205 milhões), o volumoso prejuízo operacional de € 231 milhões ainda preocupa. Já a francesa Deezer, que tem no Brasil um dos seus principais mercados, teve um salto de mais de 10% nas suas receitas em 2022 (para € 451,2 milhões), mas viu aumentar seu buraco operacional de € 120,6 milhões para € 166,7 milhões em um ano.
A resposta dos franceses já está clara: apostar mais forte no fim das assinaturas freemium, privilegiando as receitas diretas dos assinantes premium, em vez da publicidade gerada pelo modelo gratuito. Iniciada pela anterior diretora do conselho administrativo, Amanda Cameron (que pediu demissão da Deezer nesta terça, 28 de fevereiro), essa política deverá continuar sob o novo diretor, Stu Bergen, executivo com décadas de experiência no mercado musical e oriundo da Warner Music Group. No Brasil, a Deezer ainda continua a oferecer a modalidade gratuita de assinaturas.
Ao ir eliminando pouco a pouco as assinaturas freemium, a Deezer tenta, paralelamente, reforçar suas assinaturas B2B, ou seja, aquelas vinculadas a outros negócios — como, no Brasil, por exemplo, a parceira que a plataforma tem com a Tim, e que permite a assinantes pós-pago da teleco desfrutar do streaming da Deezer de maneira automática.
Já no campo da relação direta com assinantes orgânicos, a plataforma francesa foi uma das primeiras a dar um passo que a indústria musical vem pedindo há tempos: aumentar o preço das assinaturas, congelado há mais de dez anos nos mercados mais maduros do planeta.
Agora, os assinantes do Reino Unido pagam £ 11,99; os da União Europeia pagam € 10,99, e os dos Estados Unidos, US$ 10,99 — apesar de que, em todos os casos, há descontos para quem optar por planos anuais. O Spotify, que, por ser a maior, é a referência das outras plataformas em suas políticas de preços, mantém os mesmos £ 9,99, € 9,99 e US$ 9,99, sem uma sinalização de mudança por ora.
SPOTIFY: NFTs e outras novas tecnologias
O tiro dos suecos para aumentar suas receitas vai em outra direção: a diversificação da oferta de experiências e itens colecionáveis aos fãs dos artistas que compõem seus catálogos. Na última segunda-feira (27), o Spotify e a banda virtual criada pela Universal Music Group KINGSHIP (formada por avatares e vozes eletrônicas) anunciaram uma parceria para utilizar NFTs em playlists exclusivas do grupo.
As playlists requerem tokens (códigos de acesso) que podem ser obtidos com a aquisição de NFTs da banda. Por ora, só estão habilitadas para usuários que utilizam o sistema Android e nos seguintes territórios: Alemanha, Austrália, Estados Unidos, Nova Zelândia e Reino Unido.
Trata-se de um projeto piloto, mas, segundo o diário Financial Times, os investimentos do Spotify na tecnologia são milionários e incluíram a contratação de uma grande equipe de profissionais já treinados na chamada Web3, nome que vem sendo dado ao próximo salto da rede mundial que permitirá interconexão a altíssima velocidade, potencializando transações baseadas em tecnologia blockchain, o metaverso e outras formas de realidade aumentada e virtual, além da internet das coisas.
Se as contratações de profissionais altamente especializados em áreas como Web3 e inteligência artificial é uma realidade, o mesmo não se pode dizer dos demais cargos das plataformas de streaming. Embora todas elas difiram nas estratégias para conseguir novas receitas, em um ponto elas coincidem: nas demissões. A Anghami, por exemplo, anunciou em novembro passado um plano para cortar 22% de sua força de trabalho. Já o Spotify, que em outubro de 2022 havia demitido cerca de 38 profissionais especializados em podcasts, em janeiro tornou público seu plano de enxugar o quadro total de funcionários em 6%.